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domingo, 15 de agosto de 2010

Economista escreve próprio nome em muros há 16 anos

Fonte: Folha de S. Paulo - 15/08/2010 - 
Carlos Adão afirma que gosta de divulgar sua "marca" em "rolês" por cidades da região da Grande São Paulo 

Logo em preto e verde se destaca no cenário da metrópole; Folha acompanha artista numa das incursões 


EMILIO SANT'ANNA
DE SÃO PAULO 

Carlos Alberto Adão, 56, vive uma contradição. Há 16 anos criou um logotipo e espalhou pelos muros da cidade. Queria ser reconhecido. Acabou se tornando um dos personagem anônimos mais visíveis de São Paulo.

Não pode ser considerado um pichador ou grafiteiro, faz "marketing de guerrilha".

Um quadrado preto e o nome Carlos Adão, em letras de forma verdes. Difícil não notar. Rua Augusta, Morumbi, Vila Madalena, avenidas Nove de Julho e 23 de Maio. O nome está lá.



Gasta cerca de R$ 1.500 por mês com seus "rolês" para pintar. Diz valer a pena.

"Quis criar uma televisão primitiva", explica. "Pensei no sujeito dentro do ônibus indo trabalhar e vendo meu nome em cada quarteirão, formando uma sequência."
Para Mundano, um dos primeiros grafiteiros a darem "um rolê" com Adão, seu trabalho se diferencia das outras intervenções urbanas.
"Apesar de tomar o espaço urbano de forma ilegal e buscar ibope, ambas características relacionadas à pichação e ao grafite, a intervenção dele não se enquadra em nenhuma delas", afirma.

Com o tempo, o que era apenas um nome se transformou. Passaram a surgir frases como: "Ame Carlos Adão" e -uma das mais famosas- "Carlos Adão é Sexy". "Vou lá e escrevo "Sexy" ou então "Sexo", não precisa mais que isso. Quatro letras e todo mundo vai ler", diz, se divertindo.

"Ele encaixa muito bem sua assinatura no equipamento urbano. Pequenos espaços nos muros, postes, calçadas, ruas, pedras, tudo é suporte para ele", afirma o artista plástico e grafiteiro Tony de Marco.
Hoje, Adão afirma que suas intervenções são feitas apenas em locais como muros de terrenos baldios e casas abandonadas.
Também diz que evita "atropelar" grafiteiros e pichadores. Nem sempre foi assim. "Por muitos anos o Carlos Adão fazia sua pintura por cima dos pichos e grafites, o que mostrava que ele não conhecia ou não respeitava uma das principais "leis" da rua", afirma Mundano.

"ROLÊS"
Economista aposentado e ex-bancário, Adão vive o personagem que criou. Não só os muros, suas roupas também levam a mesma marca que espalha pela cidade.

Em 2006, lançou-se candidato a deputado federal pelo PT do B. Não foi eleito, mas parece ter reforçado seu status de "lenda urbana". Na internet, fóruns de debate se ocupam em discutir sobre a existência ou não de um "Carlos Adão de verdade".

Na quarta-feira, a Folha acompanhou Adão em um de seus "rolês" por São Paulo. Às 6h30, um Santana branco -com marcas de tinta por todos os lados- parou em cima de uma calçada da avenida Nove de Julho, próximo à rua Estados Unidos.

De dentro salta um homem de fala e gestos rápidos. O lugar escolhido é uma casa abandonada. As pessoas passam e param para olhar o que ele está fazendo. Em menos de cinco minutos já deixou uma dúzia de quadrados pretos na parede.

Para por cinco minutos. Conversa com as pessoas na rua, pergunta ao segurança da empresa que fica ao lado se ele vai denunciá-lo e volta a pintar. Para novamente quando um artista de rua atravessa a Nove de Julho e vem perguntar se ele é "mesmo o Carlos Adão".

Agradece e emenda: "Quem não gosta do que eu faço é porque não presta atenção", diz, sem modéstia.
Para Luiz Fernando Biagiotti, professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), se Adão não alcançou o objetivo politico, lançou mão do "marketing de guerrilha" e se tornou conhecido entre grafiteiros e pichadores.

"O marketing de guerrilha é tudo aquilo que foge da comunicação convencional. E ele faz isso, criou mais do que uma marca, um estilo", diz.

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